O QUE LEVO NA BAGAGEM PARA UMA VIAGEM EM MOTO POR 1 ANO?

Diario de Bordo 01

 by Amably Monari

Há 6 meses planejando esse momento, hoje, em plena quinta-feira 29-06-22,  imóvel diante do vazio da partida. Me partiram, me parti tantas vezes, me sinto colcha de retalho, colorida,  como a bandeira Wiphala. 

Sinto todo meu sangue latino ferver e na mesma intensidade um gelo no estomago, agora já não posso mais desistir. Na verdade, poder, posso! Mas não quero!

Tenho medo do que deixo, tenho esperança do que me espera. Tudo começa por uma decisão, como começou e termino a serie da Netflix Intimidades, excelente a recomendo. 

Na prateleira os livros, nos coabitamos, não quero deixa-los, tampouco posso leva-los. 

Decidido, levarei trës, não posso escolher pelo o que mais gosto, escolherei os que tenho mais vontade e necessidade de ler. Mas e depois? Ficarei sem livros…. Essa cabeça que não para,  resposta lógica, lerei online. 

Estou aqui escrevendo para tirar essa sensação do meu corpo partido. Me voy, dale… Arremete viajera! 

Deixo afeto na cidade portenha, deixo calma, deixo solitude, deixo o barulho da cidade grande que se faz silencio em mim, deixo uma linda rede afetiva que me foram base de apoio e seguem sendo. 

Na cidade que o povo entrecorta as ruas com seu direito de ocupar e reivindicar seus direitos, me deixo e me levo transformada. 

Aprendi aqui que; calladita no soy mas bella! 

Escrevo essas palavras, aqui dentro, de uma ocupação neoliberal da qual habito em uma antiga fabrica textil. 

Diario de Bordo 2 

01-07-2022 – O grande dia chegou, em plena sexta-feira “faço hora vou na valsa” bailo sobre o acumulo de adereços domésticos que me sinto pertencente, recolho afeto, na mala uma esperança gigante de viver, não há mais espaço para o medo. 

Anoitece e não me fui, uma dificuldade imensa de soltar o que já é se é seguro. 

Me pergunto, O QUE REALMENTE NOS FAZ SENTIRNOS SEGURES? 

Vivemos em uma sociedade em que a estabilidade financeira é base para nossa supervivência, sei que sou uma mulher branca, apesar de periférica, fui a única da minha família a ter graduação e sem contar os outros títulos e acessos que tive e tenho na vida, consciência de classe faz com que nos questionemos o nosso LUGAR DE FALA. 

A sensação de segurança também passar por nosso corpo politico, o que e como performamos nossos eus e modos de viver a vida por meio de nosso corpo. Eu como mulher e lésbica, imigrante repenso sempre meus caminhos para que me sinta protegida, já que vivemos em uma sociedade patriarcal e homofobica. 

Ter uma organização de uma rotina planejada para que eu possa realizar os atendimentos em psicoterapia, supervisão clinica e dar aulas online, ou seja, terei excelente internet que comporta horas e horas seguidas de vídeos ? Terei privacidade? 

E os imprevistos e se eu precisar dessas coisas que tenho aqui na minha casa, na estrada? São tantos os pensamentos, medos, receios que nos impedem de fazermos aquilo que realmente desejamos. 

Todos os dias como mulheres precisamos ultrapassar o pensamento “automático” esse que nos foi imposto guela abaixo durante séculos e séculos, que precisamos de PERMISSAO PARA SERMOS LIVRES, para DESEJAR E CONQUISTAR, para VIVER. 

Assim como todas as mulheres, tudo isso passa pela minha cabeça e muitas vezes sinto no meu corpo que adoece, no entanto, por ter consciência transformou esse pensamento “automatico”em uma analise critica e retorno ao DIREITO DE VIVER e não somente de sobreviver. 

Começou a chover, dizem que chuva é sinal de sorte. Mais uma vez em minha moto casa, a chuva portenha nos lava e deixa tudo que é para ficar, abrindo caminhos para o novo. 

Como tudo na minha vida tem uma trilha sonora, ao sair em meu intercomunicador FOXCOMM estava tocando uma musica que gosto muito da banda Street Lake Dive que foi apresentada por Be, daquelas pessoas inesqueciveis na vida – BETTER THAN que diz: “

I could spend ages reading the news

I could spend days, singing the blues

But I turn up the t.v. light

Give up without a fight

Better than pretending to know what’s wrong and what’s right

Uma outra musica que marcou esse momento foi: I NEED YOU TONIGHT da Banda INXS 

” Come over here

All you’ve got is this moment

Twenty-first century’s yesterday

You can care all you want

Everybody does, yeah, that’s okay

So slide over here and give me a moment

Your moves are so raw, I’ve got to let you know

I’ve got to let you know

You’re one of my kind”

E para finalizar deixo aqui um vídeo do que levo na minha bagagem por 1 ano de viagem de moto pela Argentina de Norte a Sul, além de todos meus modos de sentir e viver a vida.